Os anos 50 foram de grande prosperidade para os EUA, que emergiam da Segunda Guerra Mundial como grandes vencedores e nação mais poderosa do mundo. E isso refletia-se em seus carros.
Fundada em 1903 e adquirida pela GM seis anos mais tarde, a Cadillac sempre foi uma pioneira no setor automobilístico, apresentando espelho retrovisor, faróis e partida elétrica como itens de série em seus veículos antes de qualquer outra marca.
Nos anos 40 o chefe do Departamento de Estilo da GM era Harley Earl. Inspirado no caça Lockheed P-38 Lightning, ele apresentou em 1948 o primeiro daqueles automóveis que, no Brasil, ganhariam o apelido "rabo-de-peixe". O Cadillac série 62 de 1948 tinha duas pequenas aletas saindo dos avantajados pára-lamas traseiros. Tornou-se um sucesso imediato.
A Cadillac desde sempre fora sinônimo de luxo e poder, reconhecida por seus carros de grandes dimensões. Na mesma década apresentava seus mais exóticos modelos, mas só em 1959 viria aquele para sempre lembrado como "o Cadillac dos anos 50".
A série 62 compreendia, para 1959, versões cupê, conversível e sedãs de quatro e seis janelas laterais. Havia também o DeVille (mesmas versões, exceto conversível), Fleetwood 60 Special (sedã de seis janelas), Fleetwood 75 (sedã e limusine de oito lugares) e a linha Eldorado, com versões Seville (cupê), Brougham (sedã) e a mais glamurosa e famosa: a Biarritz conversível.
Com duas toneladas de peso, 6,1 metros de comprimento por 1,83 metro de largura e aletas de 1,07 metro de altura, o Eldorado 59 exalava poder, prestígio e dinheiro. Chegava a custar, em sua versão mais cara, a exclusiva Biarritz, cerca de US$ 7.400,00. O motor utilizado era um V8 de 390 polegadas cúbicas (cerca de 6,4 litros) com 325 a 345 cv , capaz de levá-lo a 185 km/h e acelerar de 0 a 60 milhas por hora, ou 96 km/h, em 10,3 s.
O enorme motor tinha uma média de consumo de apenas 2,8 km/l. Além de abastecer o tanque, com capacidade para 95,5 litros, o motorista também necessitava colocar 13 litros de fluido de câmbio, 6,8 litros de óleo de motor e 5,7 litros de água no radiador. O Cadillac consumia muito combustível, mas isto nada significava para os afortunados capazes de pagar por sua extravagância e a gasolina era barata.
O câmbio era um automático de três marchas GM Hydra-Matic, a suspensão utilizava molas helicoidais, com suspensão a gás Freon 12 como opcional, e para parar o 59 empregavam-se freios a tambor servoassistidos.
O Eldorado possuía todos os itens de comodidade disponíveis: direção assistida, travas centrais, bancos, vidros e tampa do porta-malas com controle elétrico e, por mais US$ 55,00, podia vir equipado com o "olho autrônico", sistema que abaixava automaticamente o facho dos faróis quando detectava as luzes de um carro vindo no sentido oposto. Seu tamanho descomunal garantia excelente espaço interno, com capacidade para seis pessoas, além do monstruoso porta-malas.
Mas, o que mais chamava a atenção no Eldorado 1959 era seu estilo, que representava o ápice dos anos 50. Projetado para ter um perfil esguio, que inspirasse velocidade mesmo sem estar em movimento, tudo nele denunciava essa intenção. O pára-brisa levemente curvado e envolvente lembrava a cabine de aviões de caça e, na traseira, imensas montanhas de cromo lembrando saídas de turbinas escondiam apenas luzes de ré.
Mas seu mais impressionante atributo era, sem dúvida, o tamanho das aletas, que se elevavam a mais de um metro do chão e levavam o Cadillac ao extremo do estilo. Cromados em profusão, faróis duplos e uma imponente grade dianteira completavam seu desenho e eram artigos fundamentais em qualquer carro dos anos 50.
Entretanto haviam problemas: sua reputação não era das melhores -- pelo contrário, tinha fama de ser muito suscetível à ferrugem --, a dianteira trepidava e o acabamento não era considerado à altura de uma grande fábrica americana. O mais grave, seu desenho era considerado espalhafatoso demais e, de fato, poucas pessoas queriam ser vistas desfilando em um automóvel tão exagerado.
Sua marca registrada, as enormes aletas, eram um símbolo desse exagero apreciado por poucas pessoas. A própria Cadillac percebeu a rejeição e, logo no ano seguinte, cortou 15,5 cm das aletas, diminuindo-as ainda mais nos anos seguintes. Mesmo assim, a marca vendeu mais de 140 mil unidades de toda sua linha em 1959.
O Cadillac 59 representou o auge do consumismo desenfreado e do otimismo desta década, mas também representou seu fim. Os Estados Unidos estavam mudando. Se os anos 50 mudaram o visual da América, os 60 mudaram seu jeito de pensar. Contudo, o Cadillac Eldorado 1959 foi uma espécie de ícone do país.